Tuesday, December 06, 2005

TABERNAS - Lugares vivos de uma tradição quase perdida

Fotografia: Fausto Giaccone

I

Por entre as ruas moldadas de paredes e muros brancos, erguem-se lugares perdidos no tempo. Lugares santos da convivialidade, do saber e do fazer um bom petisco, onde tudo exala um voluptuoso aroma a vinho. Tabernas onde os homens se juntam depois de um dia de trabalho para voltarem às tradições do Sul.
Nestes poisos de conversa e boa disposição, de abrigo e refúgio, de comidas e vinho, escondem-se histórias, momentos e fragmentos de vidas. São locais de culto, onde ao sabor do vinho se evocam poetas, se canta ao despique e se alimentam pormenores de uma tradição quase perdida.
Bebendo, jogando cartas, dominó ou damas, este era o local do convívio por excelência. Se fazia bom tempo, muitos vinham para o lado de fora encostar-se às paredes, em conversas mornas e trovejantes, lentas e longas, como as tardes dos Verões insuportáveis.
Específicas do pequeno mundo rural, as tabernas guardam ainda hoje a existência de outros tempos. Sobre o balcão de madeira, também ele envelhecido pelo tempo, continua a jorrar o vinho que serve de sustento à alma. Nestes locais onde as gentes da terra se encontram e onde a sua história se tece, há uma tradição a preservar. Uma tradição que deve fugir ao pó do esquecimento…

(Agosto 2005 )

II

A simplicidade emana em todos os seus gestos. Encostados ao balcão ou sentados a observar o vazio que envolve as paredes envelhecidas, os taberneiros acomodam-se à morosidade do tempo, servindo um ou outro copo de vinho, à pouca clientela que ainda por lá passa. O tempo atraiçoou-os, abandonando-os à sorte de melhores dias. Relembrar o passado vinca-lhes no rosto a nostalgia de tempos em que a convivialidade era intíma do cante e do petisco.
Mas o tempo não aniquilou a fragrância do vinho nem a genuinidade dos hábitos. Fragilizados pelo despovoamento que habita as suas tabernas, estes homens e mulheres permanecem atrás do balcão com a firmeza de quem tem uma tradição a preservar. Uma tradição que também nós procuramos imunizar avivando-lhe a memória nestas linhas.



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